terça-feira, 3 de julho de 2012

Efeitos da falta de conhecimento...


O sonho de toda bailarina é subir nas pontas, mas o que acontece quando a bailarina não está pronta para usar as pontas? Ou então seu professor não possui domínio técnico suficiente para corrigi-la?
Começar a usar ponta “na louca”, ou então acreditar que o que está aprendendo é realmente correto resulta em atitudes que podem gerar lesões graves e, em alguns casos, até permanentes, pela falta de técnica nas pontas. Subir nas pontas chega a ser fácil na concepção do inexperiente, já que as sapatilhas têm um revestimento de gesso, que possibilita à bailarina ficar nas pontas com estabilidade. Mas, o maior problema é: seus pés estão prontos para estar nesta posição? Seus tornozelos são fortes e flexíveis o suficiente para manter esta posição, sem causar nenhum dano, como torções, luxações, ou lesões? Seus pés estão trabalhados o suficiente para ficarem na posição correta? Todo o seu corpo está preparado para colocar o peso e o equilíbrio necessários nas pontas?
Há algumas semanas estou pensando sobre o que tenho visto nos palcos de minha cidade e, percebi que as bailarinas estão literalmente se jogando na ponta. Infelizmente algumas pessoas não estão conscientes do que é correto, do que é bonito, do que, realmente é ballet. Não podemos culpá-las por isso, acredito sim que a grande culpa é de quem ensina e que no mínimo deveria ter bom senso do que é esteticamente apresentável ao público. Estive fora por um tempo, e percebi que a dança, o comportamento dos dançarinos em União da Vitória é muito estranho, tanto que chega ser bizarro. Aqui temos um pouco de tudo... Já imaginou todos juntos em uma sala? Eu pagaria pra ver. Não entendo, todos tem chance de se aprimorar, aprender e estudar. É só querer, é triste ver que tem "profissionais" que criam um universo paralelo, onde tudo é belo e onde são os melhores do planeta! 
Voltando as pontas...
O uso das sapatilhas de ponta, quando iniciado cedo demais, força a estrutura muscular, os tendões e os ligamentos, ocasionando problemas ortopédicos graves, como pé chato, no qual não se desenvolve a curvatura, deixando os ligamentos frouxos, criando hérnias na cápsula articular nos ligamentos das articulações ósseas e calosidades.
Certas tendências e formações imperceptíveis inicialmente podem se agravar, como problemas de coluna, observados nas posturas quase sempre erradas. Várias são as bailarinas com joanetes, calos e com problemas nos joelhos. Podem surgir joelhos elásticos ou para trás, em consequência de ligamentos distendidos. “Outras deformações ainda podem advir do uso precoce de pontas, com os pés em garra, ou seja, com os dedos encolhidos, como sugere o nome.”
"O trabalho nas pontas faz com que os dois primeiros metatarsos suportem a maior parte do peso corporal. Consequentemente, quando as bailarinas aprendem a dançar nas pontas dos pés, esses ossos começam a sofrer processos de remodelagem, de forma que a cortical do primeiro e do segundo raio torna-se muito mais espessa que nas pessoas que não dançam. Durante o treinamento, e até mesmo através da carreira, esses ossos, em particular o segundo raio, correm o risco de sofrer uma fratura por estresse.
A manifestação habitual é aquela com início gradual de dor na base do segundo metatarso, que, no início, aumenta com o trabalho na ponta dos pés, e costuma ser seguida por dor ao adotar a posição de meia-ponta. Se não for tratada, a dor pode manifestar-se até mesmo no andar.
Como as sapatilhas para o trabalho de ponta são bem mais rígidos e mais estreitos que as sapatilhas de meia ponta, a realização de tração sobre o chão é mais difícil até mesmo quando os pés estão totalmente em contato com a superfície. A falta de força no pé e no tornozelo pode resultar em entorses agudas do tornozelo ou lesões por uso excessivo, tais como tendinite do tendão de Aquiles, e tendinite tibial posterior.
“Na dança, a maioria das lesões deve-se a erros de técnica e de treinamento."
Praticamente, todas as escolas de ballet aceitam iniciantes adultos, onde você poderá ter aulas, fazer os treinamentos além de aprender os fundamentos do ballet. Você aprenderá a ter mais disciplina, e isso fará bem para você. Converse com o profissional, informe seu desejo de trabalhar para subir nas pontas. Ele fará uma avaliação em seu corpo, observará você em seus exercícios, e trabalhará para isso. Mas, não faça, em hipótese alguma, por conta própria. Você não tem o conhecimento necessário para fazê-lo e isso poderá trazer sérios danos à sua saúde.
As aulas de ballet trazem uma série de exercícios para auxiliá-la a subir nas pontas. Fortalecimento dos pés e seus músculos, flexibilidade dos tornozelos e alongamento de tendões e músculos, fora os demais exercícios para o corpo todo. Lembre-se, o ballet não está nos pés, está em todo o corpo. Não adianta ter um pé preparado se não há a postura correta.
A beleza do ballet está na forma perfeita, em que a impressão que se tem é que a bailarina não faz esforço algum, não tem quase peso, e pode até mesmo voar, leve como uma pluma. Mas, para dar esta impressão etérea, é preciso muito trabalho. Só mesmo a bailarina sabe a quantidade de força que coloca em seu corpo, nos músculos certos, para que uma perna se erga suavemente, como se não tivesse peso algum. Só uma bailarina sabe o quanto seu pé sofre para ficar na ponta, e seu corpo se equilibra para manter esta pose, como se não pesasse nada.
Ismael Guiser disse uma vez que o ballet é a arte da paciência.
E Baryshnikov disse que antes de tudo é necessário o conhecimento, a técnica. Depois é que vem a diversão...

Boas Férias!

João Rodrigues