Assistir uma coreografia e simplesmente dizer que não gostou, não é crítica! Pois crítica está longe de ser gosto! Então para que serve a crítica? Criticar significa quebrar uma obra em pedaços e colocá-los em análise.
O título desta crítica, que se originou de um infeliz comentário. Fez-me ver que, são poucas as pessoas que estão aptas para abrir a boca e falar algo. O comentário é imediato e ineficaz, já a crítica é construtiva. Alguns artistas censuram a crítica por considerá-la incapaz de ensinar qualquer coisa. E, no entanto, quantos artistas não devem tão-somente á crítica a sua mísera reputação!
Já com as palavras certas, e um pouco afiadas, dou início ao meu terceiro parágrafo, no qual eu retrucarei com a mesma moeda, e alguns trocados á mais. Não me basearei no título para criticar o alvo específico, porque dele (o alvo), não consigo entender a relação de alguns acessórios com certas modalidades, ou a coerência da coreografia com o tema proposto. A limpeza técnica e coreográfica se faz ausente nos momentos precisos (todos). Mas para que técnica? Se o que importa é o amor! Ah! Seria ótimo, se dançar se resumisse em movimentos que surgem do nada, mas sabemos que não é bem assim. Tanta produção, que desperta a curiosidade, as lindas cores de sombras e batons se tornam opcional, já que, esteticamente e cenicamente o que fica visível são as narinas se contraindo e dilatando de acordo com a respiração, que cada um faz da forma que o convém, as costelas não fechadas fazem movimentos como de asas, de quem vai voar como os cisnes, ou tentar como os marrecos. As coreografias são tão diversificadas e inovadoras, que basta um tandü avant como preparação para o público adivinhar qual será o passo á ser executado. E no decorrer de dezenas de apresentações feitas ao longo do ano, o que se vê na tão cobiçada evolução? [...]
Quanto ao comentário á nós feito, vamos aceitá-lo. E, em cima dele projetar novos planos, novos métodos para melhorar cada vez mais. Como de costume nesses treze anos.
E para esclarecer aos nossos tão talentosos comentaristas, eu os corrijo dizendo detalhadamente que as coreografias criadas com base nas técnicas clássicas, têm além das sapatilhas, vários pettinés, deboileés, Piquet an tournée, sissones, arabesques, port Du bras, glissades, atittüdes, tombés, e jetés, há também, os detestavéis echappeés e entrechats, e mais um alfabeto inteiro de passos clássicos, os quais se vocês dominam ou compreendem, já não posso responder!
Criticar é abrir os olhos e ouvidos, para quem é criticado melhorar, construir. Logo, criticar é abrir os olhos e ouvidos e fechar a boca.
João Rodrigues