Enfim,
depois de muito tempo e paciência, eu e meu blog ficamos amigos novamente.
Lembro ter começado uma sequência de postagens sobre os métodos de ensino do
ballet clássico utilizados pelo mundo inteiro, dos quais comecei falando sobre
o Cubano.
E
dando sequência ás postagens, vou falar um pouco sobre o russo, Georges
Balanchine.
E
realmente, ninguém traduziu melhor em dança o temperamento de um povo do que o
fez o russo Balanchine. Todo o sentimento de auto-suficiência e espírito
desportista daquela América foi compreendida por ele e expressada em sua escola
e sua obra. Vale observar alguns detalhes de sua aula.
O
port-du-bras deve apresentar um sentido de liberdade que traduza
auto-suficiência e auto-estima. Os braços se cruzam na 3ª posição nos
port-du-bras (como se estivéssemos tirando uma blusa) e as mãos devem ter
permanente flexibilidade.
As
mãos mostram os cinco dedos de maneira acentuada e devem ser livres na sua
movimentação e os grands-pliés sobem de uma vez, sem paradas nítidas no
demi-plié.
Os
saltos devem pousar cuidadosamente no chão e para tanto passam pela meia ponta.
Em todos os movimentos em que o calcanhar tenha saído do chão, ao retornar, ele
não deve encostar totalmente no chão.
Essa
característica de Balanchine acentua a velocidade da execução dos movimentos e
contrasta fortemente com a concepção de Vaganova, em que o demi-plié profundo é
acentuado, buscando-se, ao colocar o calcanhar no chão, não apenas alongar o
tendão de Aquiles, mas também favorecer a altura dos saltos. Ou seja: o
bailarino de Balanchine dança numa velocidade muito superior ao russo; em
compensação, o bailarino formado pelo método Vaganova tem saltos muito mais
altos, o que, obviamente, exige um tempo maior de execução.
Os
quatros arabesques são os mesmos adotados por Vaganova. Contudo, Vaganova não
acentua o deslocamento do ombro para sugerir a idéia de oposição, de cruzamento
entre tronco e quadris, marcantes no estilo Balanchine. Os cotovelos não devem
estar esticados além do limite atendendo assim à individualidade de cada
anatomia. A cabeça permanece alta, em postura de auto-estima, e o braço é
colocado rigorosamente à frente do nariz. No arabesque o quadril é mantido
acentuadamente aberto. O pescoço deve estar natural, sem esforço aparente e a
compensação do corpo para levantar a perna não é usada.
O
eixo central do corpo é sempre a referência da direção da perna e do braço em
arabesque. Por isso mesmo, as pernas nas direções devant e derrière são usadas
com cruzamento acentuado.
A
maître que ilustra as aulas no método de Balanchine chama a atenção para que os
movimentos sejam executados pensando-se em cada um no momento em que estão
acontecendo. Não se deve sacrificar um movimento em função da dificuldade do
movimento seguinte.
Os
attitudes derrière, na posição effacé, não são tão alongados que formem um
ângulo oblíquo como os russos; tampouco são tão encurtados que formem um ângulo
reto como os ingleses. O attitude devant deve ser bem cruzado e por
conseqüência só será en dehors dentro da medida do sensato e do possível.
Balanchine
usou as aulas para introduzir trechos dos ballets que integram o repertório de
sua companhia. Vaganova pouco coreografou, mas ela menciona a importância de
serem ensinadas nas aulas trechos de variações de ballets de repertório.
Me
apaixonei por sua linha de trabalho quando assisti Serenade, uma de suas obras
mais famosas, a coreografia foi criada inicialmente para os alunos da School of
American Ballet, e partiu de exercícios que tinham a intenção de mostrar aos
alunos a diferença entre o bailado em sala de aula e a dança no palco. Serenade
não conta uma história, o que se vê é uma sequência de fatos acontecidos dentro
da sala de aula, como por exemplo, a réstia do sol, o atraso e a queda de uma
bailarina. Essa magnífica obra teve sua primeira apresentação em 1934 com a
própria obra prima em palco, os alunos da escola, e sua estreia profissional
deu-se em março de 1935. Serenade também não possui cenário ou objetos cênicos,
apenas a luz azul que cria uma atmosfera atemporal e celestial. O figurino é
simples, de saias longas de tule que trazem a estética do ballet romântico.
João Rodrigues
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