domingo, 13 de março de 2011

As Danças Clássicas da Índia

Para transmitir à humanidade a dança cósmica do universo, Brahma, o deus hindu da criação, ensinou os movimentos ao sábio Bharata, e este, por sua vez, compilou os ensinamentos em um tratado chamado Natya Shastra (Natya - dança/Shastra - estudo), por volta do século II a.C. Neste tratado todos os tópicos usados nas artes performáticas da Índia são descritos através de capítulos minuciosamente explicativos.
O uso das mãos (mudras), dos olhos (dristi), das posturas corporais (anga), das expressões (abhinaya), do ritmo (talas), das vestimentas (aharya), da disposição dos músicos, atores e dançarinos no natya mandap (parte do templo reservado para apresentações devocionais) são exemplos do que se encontra do livro de Bharata.
A Índia possui menos que uma dezena de danças consideradas clássicas, e destacam-se as seguintes: Odissi, Bharat Natyam, Mohiniattam, Kathakali, e Kuchipudi. Kathak e Manipuri
Apresentam diferenças posturais e rítmicas bem como se indumentária e musical, mas todas têm sua base no Natya Shastra, e surgiram com o propósito de ritualístico inicialmente dançado apenas nos templos, a dança clássica indiana fazia parte do ritual hindu de adoração á divindade e dançarinas eram consagradas como devadasis (servidoras de Deus). Mesmo saindo dos templos, ao longo dos séculos de história, e deslocando-se para palcos, migrando para fora de SUS locais de origem, as danças clássicas da Índia mantêm o caráter de ligação com o divino e, através de seus gestos e expressões são transmitidos os feitos dos deuses hindus.
Com a independência da Índia em 1947, o sentimento de patriotismo fortalece a revitalização das artes e das danças clássicas são reestruturadas e reafirmadas. A dança Odissi, por exemplo, nesta época, não era muito conhecida nem mesmo na própria Índia, e graças ao trabalho do grande guru Kelucharan Mohapatra (in memorian), hoje é dançada em todos os continentes.
Há alguns anos, bailarinos brasileiros vêm se tornando discípulos de mestres indianos e se dedicam a pesquisa, a divulgação e ensino dos diversos estilos clássicos. Ritmo e devoção têm de sobra aqui no Brasil, cabe agora exercemos um respeito ainda maior com essa tradição milenar, sabendo diferenciar os caminhos que levam a verdadeira dança clássica da Índia.

Andrea Albergaria, Pesquisadora de danças clássicas da Índia desde 1994.

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